Por Nelson Souza Lima
A contribuição das mulheres para o rock and roll é inquestionável. Aliás, devemos a Sister Rosetta Tharpe os alicerces de tudo o que conhecemos no gênero. Sua versão de “Strange Things Happening Everyday”, de 1944 é considerada, por muita gente, a primeira gravação do rock.
Forçando a memória, sem dar aquela “googada”, lembramos de inúmeras bandas com garotas como as gringas The Runaways, L7, Bangles, The Go-Go’s, Vixen, Girslshool, entre outras. Aqui no Brasil citamos, lá dos 80, As Mercenárias e Sempre Livre, e mais recentemente a Nervosa, cuja cisão originou outra banda bem legal só com garotas: Crypta.
Agora, apelando pra “São Google”, sacamos que bandas formadas por mulheres estão ai, desde sempre, marcando terreno com talento e atitude.
Do final dos 50 e começo dos 60 estão as americanas Fanny, Goldie & the Gingerbreads e The Pleasure Seekers, que contava com Suzy Quatro na formação original.
Enfim, as mulheres foram fundamentais pro gênero se tornar o que é em todas as vertentes, derrubando preconceitos, encarando o machismo, conquistando espaço num universo ainda marcado pela misoginia. Sua luta escancara uma sociedade retrógrada, querendo impor às mulheres inferioridade e submissão. Uma coisa inconcebível em pleno século XXI.
Por sua vez, os movimentos feministas fazem parte da luta por direitos, mostrando o quanto elas merecem equanimidade.
Prestes a completar 30 anos, o Manifesto Riot Grrrl surgiu simultaneamente ao Grunge, e no mesmo estado de Washington, EUA. Mas, enquanto o estilo imortalizado por Nirvana e Pearl Jam nasceu em Seatle, o Riot Grrrl despontou em Olympia, tendo seu manifesto original publicado em 1991, produzido por Kathleen Hanna, vocalista do Bikini Kill.
Não demorou muito para as brasileiras abraçarem o Riot Grrrl, com nomes importantes como Dominatrix e TPM. Evidentemente que inúmeras outras bandas se juntaram a elas numa atitude punk rock, dispostas a soltar a voz, tocando do jeito que só as garotas sabem.
Passadas quase três décadas, o Riot Grrrl e a sociedade mudaram. Muitas bandas ficaram pelo caminho, outras ainda estão ai, dando seu recado em busca de igualdade.
No Brasil, novos grupos formados por garotas têm chamado atenção, evidenciando que o rock feminino não é sazonalidade. Sempre estará presente e, enquanto uma garota empunhar sua guitarra ou berrar no microfone clamando por direitos, a sociedade seguirá no caminho certo.
Uma das bandas caçulinhas só formadas por mulheres é a Malvada, surgida em março deste ano. Integrada por Angel Sberse (vocal), Bruna Tsuruda (guitarra), Ma Langer (baixo) e Juliana Salgado (bateria), o grupo chega com tudo: atitude, talento e rock na veia.
Para elas, o Riot Grrrl foi um marco na história do feminismo com o qual se identificam no sentido de quererem igualdade e fazerem música na forma na qual acreditam.
Para elas, o Riot Grrrl foi um marco na história do feminismo com o qual se identificam no sentido de quererem igualdade e fazerem música na forma na qual acreditam.
“Somos, sim, completamente contra a desigualdade e queremos incentivar outras mulheres a fazer o mesmo em qualquer área/questão e não somente na música”, dizem as garotas.
Abaixo, um bate-papo bem legal com as garotas da Malvada feito por e-mail, respeitando o distanciamento em meio à pandemia. A banda decidiu responder em conjunto, sem designar uma “porta-voz”.
Malvada: Foi um grande marco na história do feminismo. Nos identificamos no sentido de que também queremos igualdade, fazendo nosso som da forma que acreditamos, independentemente do gênero.
Mal: Não nos consideramos ativistas, nossas letras retratam sentimentos e situações do nosso cotidiano, uma coisa mais interiorizada, na maior parte dita nas entrelinhas. Somos, sim, completamente contra a desigualdade de gênero e queremos incentivar outras mulheres a fazerem o mesmo em qualquer área/questão e não somente na música.
Mal: De fato, algumas nem haviam nascido quando o movimento surgiu. Defendemos o princípio de que você pode ser/fazer o que quiser, embora saibamos que ainda vai demorar muito para que não haja diferenciação entre gêneros.
Mal: Nossa música contribui para o nosso próprio bem-estar, porque é o que amamos fazer, se isso consequentemente de alguma forma contribuir para sociedade, ficaremos duplamente satisfeitas.
Mal: A luta das mulheres não é de hoje e vai perdurar ainda por muitos anos, independente do governante, porque a questão é cultural, é um misto da educação que vem de casa com a personalidade/caráter do ser humano.
Mal: Seria hipocrisia dizer que não há atrito ou competição entre mulheres, mas devido ao fato do mercado musical feminino ainda ser tão pequeno, a grande maioria tende a se apoiar bastante, pois a vitória de cada mulher, representa a de várias, dada a desigualdade e falta de incentivo que vivenciamos desde sempre.
Mal: Ainda não, mas quem sabe um dia, seria um prazer!
Mal: De fato a cultura do Brasil é pouco voltada para o Rock, mas ainda é um pouco cedo para tirarmos conclusões em relação a isso, pois estamos em fase de gravação/produção, nem chegamos a lançar material autoral ainda, mas já tivemos bons feedbacks de muitas páginas, sites e blogs sobre rock.
Mal: Estamos usando a internet a nosso favor, compondo à distância, divulgando nossas fotos e vídeos de covers nas redes para angariar público e ter um retorno bacana quando lançarmos nossos primeiros singles. Tem funcionado bem.
CR – De que forma as bandas femininas podem ser representativas dos anseios das mulheres em geral por busca de direitos e uma sociedade igualitária?
Mal: Fazendo e defendendo aquilo que elas acreditam, sempre com o devido respeito.
Nelson de Souza Lima é jornalista, repórter, resenhista e colunista musical.
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