Live Sessions at Mosh / Tony Babalu

Por Luiz Domingues

Guitarrista, compositor e produtor musical de enorme experiência na cena musical paulista e brasileira, Tony Babalu acaba de lançar mais um trabalho solo a revelar uma grande qualidade, o que aliás, vindo de sua parte, é a praxe. Em Live Sessions at Mosh, Tony Babalu apresenta-nos seis temas instrumentais sob grande qualidade técnica, com inspiração e sobretudo a demonstrar um ecletismo estilístico ímpar, que faz desse álbum uma oportunidade para termos uma agradabilíssima audição.

A concepção foi baseada na ideia de uma sessão de gravação ao vivo, com Tony Babalu e banda a tocar juntos, ao vivo, como em uma apresentação regular com público presente. Em tal tipo de gravação (estou a falar sobre metodologia de trabalho), perde-se a precisão e o foco de uma abordagem tradicional de gravação de disco, mas ganha-se em calor humano, com a música a ser conduzida pela vibração daquele momento único em que o artista tem em uma apresentação ao vivo, e foi essa a intenção de Tony Babalu para ficar eternizado nesse trabalho.

 

Ao ouvi-lo, constata-se que Tony Babalu logrou êxito, porque não são poucos os climas exclusivos criados pela banda, em momentos a conter forte inspiração e criatividade.

O disco

O primeiro tema do disco, “Valsa à Paulistana”, é de fato uma valsa na acepção do termo, pois apresenta-se conduzido pela fórmula de compasso típica desse ritmo, em ¾. Gostei muito do timbre limpo da guitarra Fender Stratocaster, de uma beleza incrível. O piano elétrico a preencher os espaços com acordes sofisticados deu uma consistência excelente. O tema avança e ganha ares brasucas, ao parecer um Samba-Jazz, com muito groove, e sob um belo solo de guitarra, onde Babalu buscou as suas bênçãos com Carlos Santana, certamente.

A faixa seguinte, “Pompeia’s Groove” é um Jazz-Rock funkeado daqueles bem setentistas, com punch rocker. Gostei muito da pegada forte do Franklin Paolillo, um dos maiores bateristas da história do rock brasileiro, sem dúvida.

Tirante isso, chamou-me a atenção o belo riff rocker na parte central do tema, com o piano a assumir um papel importante na sua condução e o solo final de Babalu, que traz à tona uma lembrança muito bem-vinda de Jeff Beck.

Antes de ouvir “Suzi”, a próxima faixa, olhei a sua metragem e pensei como é longo o tema e dessa forma, ao considerar-se ser um disco instrumental e não versado pelo rock progressivo (estilo onde músicas de tamanho avantajado são normais), como poderia ter sido desenvolvido dentro do conceito da música instrumental?

Bastou escutar os primeiros segundos para eu suspender a minha perplexidade e mergulhar no suave blues, com um poder quase hipnótico que não nos deixa pensar em mais nada e aí os tais nove minutos diluem-se e, quando a canção termina, fica a sensação boa de “quero mais”. É muito bom o timbre da guitarra de Babalu nessa faixa, condizente com a sua atmosfera quase mântrica. Remeteu-me ao som de Eric Clapton em seus primeiros discos solo, dos anos setenta.

“Brazilian Blues” também surpreendeu-me positivamente. Por tratar-se de um slow blues, gostei bastante da atuação do tecladista, Adriano Augusto, com um solo muito bom ao órgão.

Na metade da música, um clima mais tenso agradou-me bastante, ao proporcionar-me lembrar da canção “Yer Blues”, dos Beatles, e, ao final, gostei muito da intervenção de um solo muito melódico de Tony Babalu.

A quinta faixa traz “Halley 86”, uma explícita referência à passagem do famoso cometa pelo céu de nosso planeta, naquele ano de 1986.  Nessa canção, a brasilidade fez-se presente, com um tema claramente calcado no ritmo do baião nordestino, com muita ginga.

O baixista, Leandro Gusman, fez um solo de baixo muito técnico e melódico, realmente notável, ao lembrar o estilo do baixista, Itiberê Zwarg, que acompanha Hermeto Paschoal há anos. Babalu também deixou a sua marca, com um delicado solo à la George Harrison.

O último tema, chamado “Vecchione Brothers”, é um rock com pegada e emoção. Outra homenagem pessoal, “Suzi”, é uma homenagem à esposa de Babalu, desta vez Babalu evocou as suas raízes rockers ao lado dos fundadores do Made in Brazil e vizinhos do bairro da Vila Pompeia, em São Paulo. Gostei do riff, que tem o punch de bandas clássicas como  Foghat e Status Quo, por exemplo. Musicalmente, como já salientei, o disco é bastante eclético, ao passar por vários ritmos.

A banda é sensacional, e  Tony Babalu brilha como guitarrista, compositor, arranjador e produtor.

A capa é bastante estilosa. A lendária guitarra Fender Stratocaster de Tony Babalu destaca-se sob uma paisagem noturna e difusa, para imprimir um astral de urbanidade, que particularmente muito agrada-me. O encarte vem recheado com fotos da banda a gravar nas dependências do estúdio Mosh de São Paulo. Existe uma filmagem no CD que pode ser vista no computador, um bônus sensacional que recomendo, certamente.

Para encerrar, afirmo que, para quem acha que disco de música instrumental interessa somente aos músicos, engana-se em relação a este trabalho. Ele cai bem em qualquer momento e pode agradar pessoas que teoricamente somente ouvem músicas vocalizadas e com três minutos de duração, no padrão pop radiofônico.

 

Para conhecer este trabalho e a carreira de Tony Babalu, acesse:

www.tonybabalu.com


Luiz Domingues é músico e escritor.

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