Por Luiz Domingues
A concepção foi baseada na ideia de uma sessão de gravação ao vivo, com Tony Babalu e banda a tocar juntos, ao vivo, como em uma apresentação regular com público presente. Em tal tipo de gravação (estou a falar sobre metodologia de trabalho), perde-se a precisão e o foco de uma abordagem tradicional de gravação de disco, mas ganha-se em calor humano, com a música a ser conduzida pela vibração daquele momento único em que o artista tem em uma apresentação ao vivo, e foi essa a intenção de Tony Babalu para ficar eternizado nesse trabalho.
Ao ouvi-lo, constata-se que Tony Babalu logrou êxito, porque não são poucos os climas exclusivos criados pela banda, em momentos a conter forte inspiração e criatividade.
O disco
O primeiro tema do disco, “Valsa à Paulistana”, é de fato uma valsa na acepção do termo, pois apresenta-se conduzido pela fórmula de compasso típica desse ritmo, em ¾. Gostei muito do timbre limpo da guitarra Fender Stratocaster, de uma beleza incrível. O piano elétrico a preencher os espaços com acordes sofisticados deu uma consistência excelente. O tema avança e ganha ares brasucas, ao parecer um Samba-Jazz, com muito groove, e sob um belo solo de guitarra, onde Babalu buscou as suas bênçãos com Carlos Santana, certamente.
A faixa seguinte, “Pompeia’s Groove” é um Jazz-Rock funkeado daqueles bem setentistas, com punch rocker. Gostei muito da pegada forte do Franklin Paolillo, um dos maiores bateristas da história do rock brasileiro, sem dúvida.
Tirante isso, chamou-me a atenção o belo riff rocker na parte central do tema, com o piano a assumir um papel importante na sua condução e o solo final de Babalu, que traz à tona uma lembrança muito bem-vinda de Jeff Beck.
Bastou escutar os primeiros segundos para eu suspender a minha perplexidade e mergulhar no suave blues, com um poder quase hipnótico que não nos deixa pensar em mais nada e aí os tais nove minutos diluem-se e, quando a canção termina, fica a sensação boa de “quero mais”. É muito bom o timbre da guitarra de Babalu nessa faixa, condizente com a sua atmosfera quase mântrica. Remeteu-me ao som de Eric Clapton em seus primeiros discos solo, dos anos setenta.
“Brazilian Blues” também surpreendeu-me positivamente. Por tratar-se de um slow blues, gostei bastante da atuação do tecladista, Adriano Augusto, com um solo muito bom ao órgão.
Na metade da música, um clima mais tenso agradou-me bastante, ao proporcionar-me lembrar da canção “Yer Blues”, dos Beatles, e, ao final, gostei muito da intervenção de um solo muito melódico de Tony Babalu.
A quinta faixa traz “Halley 86”, uma explícita referência à passagem do famoso cometa pelo céu de nosso planeta, naquele ano de 1986. Nessa canção, a brasilidade fez-se presente, com um tema claramente calcado no ritmo do baião nordestino, com muita ginga.
O baixista, Leandro Gusman, fez um solo de baixo muito técnico e melódico, realmente notável, ao lembrar o estilo do baixista, Itiberê Zwarg, que acompanha Hermeto Paschoal há anos. Babalu também deixou a sua marca, com um delicado solo à la George Harrison.
O último tema, chamado “Vecchione Brothers”, é um rock com pegada e emoção. Outra homenagem pessoal, “Suzi”, é uma homenagem à esposa de Babalu, desta vez Babalu evocou as suas raízes rockers ao lado dos fundadores do Made in Brazil e vizinhos do bairro da Vila Pompeia, em São Paulo. Gostei do riff, que tem o punch de bandas clássicas como Foghat e Status Quo, por exemplo. Musicalmente, como já salientei, o disco é bastante eclético, ao passar por vários ritmos.
A banda é sensacional, e Tony Babalu brilha como guitarrista, compositor, arranjador e produtor.
Para encerrar, afirmo que, para quem acha que disco de música instrumental interessa somente aos músicos, engana-se em relação a este trabalho. Ele cai bem em qualquer momento e pode agradar pessoas que teoricamente somente ouvem músicas vocalizadas e com três minutos de duração, no padrão pop radiofônico.
Para conhecer este trabalho e a carreira de Tony Babalu, acesse: