CD Live Sessions II / Tony Babalu

Por Luiz Domingues

Existem inúmeros guitarristas fantásticos no país, com técnica exuberante; alto conhecimento teórico, bom gosto na preparação de seu áudio, muita criatividade e a atuar em diversos nichos da música, indiscutivelmente. O guitarrista, Tony Babalu, está nesse rol, certamente, contudo, possui um diferencial marcante e que não depende necessariamente de estudo para alcançar-se, mas eis que alguns poucos conquistam de forma indelével e, certamente, que é o caso dele. 

Trata-se de uma personalidade musical única, portador daquela capacidade de fazer com que os ouvintes consigam identificá-lo, ao soar de poucas notas que produz. Carlos Santana, David Gilmour, Johnny Winter e Brian May (sei que o leitor vai elucubrar outros nomes como exemplos, naturalmente) são alguns desses que têm essa capacidade e Tony Babalu pode ser incluído nessa seleta lista.

Assim que lançou o álbum: “Live Sessions at Mosh”, em 2014 (leia a minha resenha sobre ele através desse link abaixo: http://luiz-domingues.blogspot.com.br/2014/07/live-sessions-at-mosh-tony-babalu-por.html), ficara no ar a expectativa por mais um disco com esse mesmo teor, em face da qualidade e apuro artístico de uma música instrumental inspiradora. Demorou, mas eis que Tony Babalu anunciou, enfim, o lançamento de um novo álbum e bingo… mais uma vez a reunir a sua banda para uma sessão gravada ao vivo no estúdio Mosh, de São Paulo.

Em “Live Sessions II”, a mesma dinâmica foi usada, com um resultado excelente, ao mostrar mais uma vez que a capacidade em produzir música instrumental de extrema qualidade e, ao mesmo tempo, com apelo Pop é possível. Portanto, não se trata de um disco de Jazz-Fusion passível de ser admirado apenas por músicos e/ou experts do gênero, mas, pelo contrário, consegue agradar a diversas camadas de ouvintes.

Outro trunfo, foi a extrema versatilidade com a qual Babalu e a sua banda trafegam por estilos diferentes. Ao longo do álbum, ouve-se Jazz; groove de Black Music, pitadas de Blues, ritmos latinos, brasilidade e Rock, tudo junto e misturado, com uma fluidez tamanha que impressiona. E, além disso, o bom gosto impera. 

Apesar de ser um disco instrumental e haver uma aura “fusion” que permeia o trabalho como uma amálgama, não existe excesso. Todos os solos, não apenas os da guitarra, mas dos outros instrumentos, são feitos com muito critério, ao usar do bom senso, e assim evitar devaneios em demasia, e dessa forma a tornar o trabalho bem enxuto. 

Outra marca registrada de Tony Babalu como guitarrista e que se incorporou aos demais, enquanto conceito de obra, nota-se uma delicadeza ímpar nos arranjos, tanto no âmbito coletivo, quanto nas linhas individuais.

Essa sensibilidade aguçada, que é típica de Tony Babalu ao lidar com a sua guitarra Fender Stratocaster, impregnou-se no álbum, e claro que isso o valoriza, tremendamente.

O conceito de capa e encarte, com extrema sobriedade a norteá-lo, agradou-me igualmente. Combina com a atmosfera do trabalho, ao transmitir pelas imagens e cores usadas, a mesma intenção passada pela música. Sobre o áudio, os timbres ficaram bem agradáveis ao se considerar a intenção do trabalho, e claro, gravado em um dos mais tradicionais estúdios de primeira linha  do Brasil, a qualidade ficou assegurada.

A respeito das faixas

Ao falar sobre as seis faixas, tenho a observar que a primeira, chamada: “Locomotiva”, faz jus ao título, pois abre o disco com a força necessária para mostrar a que veio. Com pegada de um “Boogie-Woogie”, começa empolgante, com a guitarra de Babalu a pontuar com arpejos ricos e com o tecladista, Adriano Augusto, a produzir um balanço incrível no uso de um clavinete. 

Gostei bastante de uma parte intermediária com nítida influência de música brasileira. Babalu arrebenta ao fazer um solo com ótimo uso de Eco e Reverber, tendo um apoio muito bom do órgão. O entrosamento de baixo (Leandro Gusman) e bateria (Percio Sapia) é perfeito, a garantir o pulso firme e que, em certos aspectos, fez-me lembrar do trabalho de bandas como o “Dixie Dregs”, por exemplo.

A segunda faixa, “Meio-Fio”, tem muita brasilidade. A guitarra ultra balançada que Babalu imprimiu, lembrou-me trabalhos do Jorge Ben nos anos setenta, quando este ainda não era “Benjor” e do Gilberto Gil, igualmente. Nessa seara do “groove brasuca”, alguns contra-tempos que Babalu colocou, com a Fender Stratocaster a explorar o máximo de seus captadores single-coil, ficaram incríveis. 

Gostei também das pontuais intervenções do baixo com frases rápidas e do ótimo solo de piano. Uma convenção que me lembrou o Jazz-Rock com sabor nordestino, dos discos solos do Pepeu Gomes, trouxe energia à canção. De certa forma, remeteu-me também ao som do César Camargo Mariano, quando este teve o seu momento de aproximação com o Rock Progressivo setentista, mas sem deixar de lado sua brasilidade toda baseada em sabor “jazzy”.  

E o final é muito bonito, com aquela calmaria toda instaurada, onde dá para sentir a respiração dos músicos ante uma dinâmica tão acentuada. Com o piano a pontilhar notas com a bateria, por exatamente percurtir muito delicadamente as campanas dos pratos e do aro da caixa, Babalu esbalda-se através de um solo flutuante, absolutamente “JeffBeckeano”.

“Valentina” é outro tema que transborda emoção. É de uma delicadeza comovente, como se ao invés de música, fosse uma pintura, uma aquarela a retratar um campo florido e muito ensolarado da Toscana. Gostei muito do sentido rico dos arpejos da guitarra, com ótimo apoio do piano. Baixo e bateria igualmente em sincronia perfeita e, em dado momento de dinâmica crescente, o acréscimo de um órgão bem colocado.

“Veia Latina” já escancara a intenção pelo seu título. Sim, eis que a banda mergulha no interior de um caldeirão de boas influências da música latino-hispânica-latinoamericana. Predomina o som caribenho, a salsa de Havana, mas com toques chicanos acentuados, ao trazer o som de Carlos Santana à baila. 

É muito criativa a atuação do baterista Percio Sapia nessa faixa, pois mesmo ao dispensar o uso de percussões típicas em apoio, ele fez na bateria certos fraseados em seus tambores, que simularam perfeitamente a intenção em evocar timbales, congas e guiro. São movimentos sutis, mas ficaram muito bons. Gostei também de uma série de pequenas convenções com acentos bem latinos, que deram suporte a um micro solo de bateria.

Há um ótimo solo de órgão, igualmente, e a seguir, Babalu deixa de lado um pouco a sua sutileza típica e pisa no “drive”, para fazer um solo mais ardido, escandaloso e excelente por sinal. E também destaco um passeio do piano, com muito balanço a conter uma pitada discreta de Jazz, na sua estrutura harmônica. 

“Encrenca”, creio ser a faixa mais urbana do disco, pela aura de tensão nela contida. Apesar do “groove”, talvez o clima mais soturno oferecido pelo uso do synth, tenha-a deixado mais nervosa (no ótimo sentido do termo, devo realçar), ao imprimir uma força notívaga, cosmopolita. Gostei muito de uma convenção bem ao estilo do “Funk-Rock” setentista e do solo de guitarra a usar muito bem o recurso do delay. Rápidos e muito competentes solos de baixo e bateria também são observados.

Chegamos então à última faixa do álbum, chamada: “In Black”.  Aqui o clima de “Soul Brasuca” é muito marcante, ao parecer com o trabalho da banda Black Rio, nos anos setenta. Tudo é muito bem colocado nessa canção, como o uso do piano elétrico e uma intervenção de baixo e guitarra a dobrar juntos em um fraseado cheio de balanço “Soul”. 

Apreciei demais o solo de Babalu, com uma pitada de “Fuzz” e o longo, “Fade Out”, ficou adorável, uma ideia incrível que tratou de perpetuar aquele sabor de música que embala-nos e da qual não queremos que acabe nunca.  

Recomendo esse trabalho, certamente, primeiro pela sua qualidade artística indiscutível e também como prova cabal de que a música instrumental pode ser popular, e não apenas circunscrita a um pequeno mundo de apreciadores dessa vertente. 

Gravado nos últimos dias de dezembro de 2016, no estúdio Mosh de São Paulo, teve na captação e mixagem, Sidney Garcia. Assistência de produção a cargo de Ruy Galisi Jr. e Caio Villares. Masterização por Walter Lima.

 

Fotos: Karen Holtz; Nicholas Abão; Lucas Altieri e Osmar Santos Jr.

Projeto Gráfico e fotos por Marina Abramowicz. 

Coordenação de produção de Suzi Medeiros e produção geral de Tony Babalu. 

Selo Amellis Records

 

Tony Babalu & Banda:

Tony Babalu: Guitarra / composições

Adriano Augusto: Teclados

Leandro Gusman: Baixo

Percio Sapia: Bateria

 

Para maiores informações sobre o trabalho do guitarrista e compositor, Tony Babalu, acesse:

Site oficial:

www.tonybabalu.com

Facebook:

pt-br.facebook.com/tonybabalu1

You Tube:

https://www.youtube.com/user/TonyBabalu

Spotify:

https://open.spotify.com/artist/4EqJdbKwoA8tjgHUP1qXKa

Soundcloud:

https://soundcloud.com/tonybabalu

 


Por Luiz Domingues é músico e escritor

 

 

 

 

FIQUE EM CONTATO!

Preencha os campos do formulário de contato abaixo para receber semanalmente todas as novidades da Associação Cultural Rock!