Black rock matters

Por Patricia Fawkes

 

No dia 25 de maio de 2020, o cidadão negro norte-americano, George Floyd, morreu asfixiado por um policial em Mineápolis, nos EUA. O assassinato gerou uma onda de manifestações contra o racismo e o fascismo no mundo todo. A hashtag #BlackLivesMatter, referente à uma organização criada nos EUA, em 2013, por norte-americanos, invadiu as redes sociais à época.

Foi assim que Vernon Reid, guitarrista negro da banda de rock Living Colour (banda excepcional!), decidiu fazer um novo clipe da música “This is the life”, do álbum Times Up (1989), com cenas das manifestações – “Times Up foi gravado há 30 anos e lamentavelmente continuamos na mesma luta” é a descrição do vídeo no canal do Youtube.

Roger Cramer, ex-empresário do grupo, disse: “O rock era feito por pessoas brancas naquele momento. Era o auge das bandas de cabeludos. Quando o Living Colour apareceu, eles poderiam tocar e cantar dando um banho nessas bandas. Mas eles eram negros”.

Sabe aquela história que, se uma pessoa negra quiser ser aceita da mesma forma que uma pessoa branca, ela tem que fazer duas vezes melhor? Então, Living Colour fazia.

O guitarrista além de adorar jazz, fez também várias parcerias com artistas do rhythm & blues. O cantor Gorey Glover trabalhou como produtor e empresário de artistas de hip hop e soul music. O baixista Doug Wimbish fez rap e heavy metal (isso mesmo, cara pálida!) e trabalhou até com Kiko Loureiro, um guitarrista multi-intrumentista, integrante da Megadeth, que compõe a lista dos mais técnicos do mundo. O baterista Will Calhou virou produtor de rap e compositor de trilhas sonoras.

Entenderam agora porque disse lá no começo do texto que essa banda é excepcional?

Na década de 1950, criou-se uma expressão para desqualificar os negros: niggers. A música de origem negra era criminalizada, com boicotes de shows e rádios. Até que os brancos começaram a fazer essa mesma música (saca Bill Haley e Elvis Presley?). E, pela primeira vez, os jovens brancos não ouviam mais as músicas dos seus pais e nem se vestiam como eles. Sem sentido, separou-se o rock and roll – antecedido pelo rhythm & blues dos negros norte-americanos da primeira metade do século XX – do rock – a música de negros feita por brancos, sob influência do velho e bom rock’ n’ roll –, o resto é história.

Desde Chuck Berry, Bo Didley, Little Richard, Rosetta Tharpe, Jimi Hendrix, The Black Merda (pronuncia-se murder), Thin Lizzy, Michael Jackson, Prince, Living Colour, Lenny Kravitz, passando pelos brasileiros Clemente (Plebe Rude), Chico Science, O Rappa, Planet Hemp, até os atuais Alabama Shakes, Seratones, The Bellrays, Nova Twins, Gary Clarck Jr., Michael Kiwanuka, muitos outros artistas fizeram e fazem parte do rock – mas, daquele: mais rico, mais diverso e tocado por negros.

Imaginem se Elvis fizesse o que fez, sendo negro: teria esse feito a mesma visibilidade que teve? Hoje em dia, considerado alternativo e exótico, o rock realizado por negros deveria ter o espaço que merece.


 

Sou Patricia Fawkes, cantora e compositora de indie rock e não conseguiria compor sem a influência da música feita por negros.

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