Por Nelson Souza Lima
Val Santos é um dos caras mais atuantes da cena metal brazuca. Ex-guitarrista do Viper e Toyshop, é também compositor, arranjador, produtor, vocalista ocasional e agora agente de viagens. Agente de viagem? Como assim? A situação tá tão brava que forçou o músico a mudar de profissão?
Metaforicamente falando, o guitarrista convida todos a uma jornada pelos bons tempos do metal quando o heavy/thrash dava as cartas com bandas extraordinárias que deixaram o nome na história. O bilhete para a viagem é “1986”, primeiro álbum solo de Val que está sendo disponibilizado somente nas plataformas digitais.
A década de 1980 e, sobretudo, o ano que dá título ao disco foram importantes para o metal. Para se ter uma ideia, em 1986 foram lançados, entre outros, “Master of Puppets”, do Metallica, “Reign in Blood”, do Slayer e “Peace Sells… But Who’s Buying?”, do Megadeth. Álbuns incríveis que tiveram projeção planetária e em território nacional influenciaram as então nascentes Viper, Vodu e Volkana.
De acordo com Val Santos, “1986”, o álbum, é homenagem a um período emblemático em sua trajetória. “É tudo baseado nos anos 80 que é a época que me influenciou muito na música. Grupos como Metallica, Kiss, Iron Maiden, Viper, são exemplos dessas influências, especialmente o Viper, que foi a banda que acompanhei desde o começo, toquei batera e depois voltei como guitarrista em 2006, o disco reflete essa época”, diz.
O álbum contou com uma galera de peso como Leandro Caiçolo do Viper, Mauro Coelho, Alexandre Grunheidt, Rob Gutierrez e Bruno Sutter. Vocalistas talentosos e que, entre eles, estaria André Matos, infelizmente morto em junho de 2019.
Sobre a ausência do amigo, Val Santos diz: “não sei se iria participar do meu disco, acho que provavelmente sim, por sermos amigos desde adolescência, mas a verdade é que demorei para fazer o convite, tinha já planejado que a música “Miracle” seria na voz dele, seria uma honra para mim, mas infelizmente demorei e ele se foi”.
Questionado sobre uma tour de divulgação pós-pandemia, o guitarrista afirma que, no máximo, rolará um show para mostrar o trabalho. “Turnê não mesmo, pois no palco já não tenho aquele tesão como tinha antes, então achei melhor me retirar”, conclui para tristeza dos fãs.
Val Santos – Primeiramente, obrigado pela entrevista, Nelson. Você é um cara gente boa demais e sempre deu muita força para minha banda, valeu! Bem, então, shows eu não faço mais mesmo, fiz no começo do ano passado com um projeto que tenho, mas por causa da grana que era boa. Mas música não paro não, gosto de compor, gravar, essas coisas, e isso não vou parar, só estou fazendo o que curto mesmo, o palco já não tenho aquele tesão como tinha antes, então achei melhor me retirar. Sobre o disco, como disse antes, amo compor e gravar, e o disco é uma homenagem ao estilo que eu comecei na música, o Heavy Metal no geral, e tudo baseado nos anos 80 que é a época que influenciou muito na música, bandas como Metallica, Kiss, Iron Maiden, Viper, são exemplos dessas influências, especialmente o Viper que foi a banda que acompanhei desde o começo, toquei batera e depois voltei para a banda como guitarrista em 2006, o disco reflete essa época.
A sua trajetória dentro do metal nacional é uma das mais sólidas, uma vez que já tocou com muita gente e participou do trampo de várias bandas compondo, produzindo ou tocando. Como faz um balanço desses anos de carreira?
VS – Então, tive minha banda chamada Zuris, que formei nos anos 80 quando eu tinha 16 para 17 anos, minha primeira de Metal, passaram guitarristas famosos hoje em dia pela banda, como o Kiko Loureiro, Marcos Kleine, Marcos Nazareth do Skyscraper, até o Pit Passarell tocou em um show, pois estávamos sem baixista na época. Toquei no Viper como baterista e depois como guitarrista, participei de jams com vários músicos famosos, então tenho até uma história interessante… haha, e sempre fui muito bem tratado por todos, e, claro, esses anos todos com várias pessoas maravilhosas, artistas famosos e não famosos me ajudaram no meu jeito de compor. Um cara que realmente me influenciou muito nisso foi o Pit Passarell, me ensinou os meus primeiros passos na composição. Devo muito o que sou hoje em dia a ele.
Na estrada há tantos anos viveu momentos inusitados, divertidos e quase trágicos. Um deles foi o lançamento do “Soldiers Of Sunrise”, do Viper, em 1986, quando você era roadie da banda. Naquele show quase, literalmente, botaram fogo no Colégio Rio Branco, em São Paulo. Como foi esse episódio que entrou para os anais do Heavy Metal brazuca?
VS – Olha, acho que aquela época foi única e não terá outra igual, NUNCA mais, mas acredito que terá, sim, outro tipo de época para o heavy metal, mas será para o público novo, não para nós nostálgicos e velhos… hahaha, mas é assim mesmo, cada geração terá sua época na cultura, a minha foi anos 80 e 90, e para outros aliás foram ainda antes, os anos 70, e sou aberto a novos talentos, e tem alguns ótimos, mas ainda acho que falta muita banda que traga algo novo, e é difícil mesmo, no estilo metal ainda encontrar algo novo para fazer e principalmente surpreender com esse algo novo, não é uma tarefa fácil não, na maioria as bandas tocam o que já foi feito só que com roupagem nova, e tudo bem também. Eu, no meu disco, estou fazendo exatamente isso, homenageando aquela época de ouro da música em geral aliás.
Como foi elaborar o set list de “1986”? Tem canções ali (Cross The Line, Dreamer e Miracle) que já haviam sido gravadas pelo Viper no disco “All My Life”, de 2007. Vocês deram novas roupagens para essas músicas? Outra que chama atenção é Warriors Of Metal, sua primeira composição de 1986, que foi escrita para Zuris. É a primeira vez que grava essa música? Se sim, por que demorou tanto tempo para gravá-la?
VS – Sobre as músicas, as que gravei com o Viper sempre quis regravá-las, pois hoje em dia se consegue fazer uma gravação melhor, e elas mereciam isso, não mudei muito das versões originais, são outros vocalistas a gravá-las, isso é que diferencia mais das versões originais, e o tipo de gravação que é mais atual. A Dreamer e a Miracle são mais anos 80, mesmo na época que gravei com o Viper essas duas queria dar essa vibe, a Cross The Line foge um pouco nessa temática, tentei algo diferente quando gravei com o Viper que é o fato de ser dois tons abaixo do tom normal, dá mais peso a música, foi única música que saiu em disco do Viper nesse formato. Sobre a Warriors of Metal, essa música compus quando eu tinha uns 16 anos, minha primeira música metal, e realmente nem em demo tem registro dela, só em alguns vídeos de shows da época, então um amigo meu lembrava como tocava e me mostrou de novo e eu pensei, vou gravá-la, claro com uma roupagem mais atual, mas os riffs são o mesmos, essa sim é totalmente anos 80, toda vibe da época está nessa composição, eu me baseei na música “Heay Metal is The Law”, do Helloween para fazê-la, e foi cantada por meu amigo Mauro Coelho que mora em Portugal, mas na época ele era do Zuris, e foi uma viagem ao passado, legal demais, tô muito empolgado com essa música que aliás será meu terceiro single, sairá no dia 5 de abril.
Na faixa “Pay For Your Life” você tá cantando. Como são suas experiências como vocalista? Que nota dá pra você como cantor?
E a nota que me dou como cantor é 5… haha, sou razoável…
Uma vez que a pandemia não dá trégua e nem imaginamos quando voltaremos ao normal como será a divulgação de “1986”? Disponível em todas as plataformas e mídia física?
VS – A divulgação será tudo por streaming mesmo, não penso em vendas essas coisas, eu penso mesmo em deixar um legado, minha marca aqui na terra antes de eu ir embora (sem tom dramático… haha), estou com quase 51 anos e vi muita coisa, esses dois discos que farei representará o que vi, li, escutei nesses anos todos, estou contando minha história através da música. Tanto que, na segunda parte do meu disco, não terá heavy metal e sim música no geral, que passará pelo pop, reggae, forró, punk, disco, e será assim mesmo, o forró será mesmo forró, sem misturas e nada, aquele pé de serra antigo, meu pai é sanfoneiro provavelmente vai participar, a reggae será realmente reggae, tentarei ainda fazer com aquela pegada Bob Marley, e sonoridade da época, será um desafio pra mim, mas será muito divertido compor a segunda parte que parecerá mais comigo mesmo, sou um cara eclético com música, só tenho dificuldade de ouvir batidão (que eles chamam de funk), de resto ouço de tudo mesmo.
Seria complicado fazer turnê com essa galera toda. Haveria uma tour do álbum?
VS – Não terá turnê… haha, no máximo um show para divulgar o álbum, e quem ver verá… hahaha, ainda estou vendo como fazer isso depois da pandemia, mas turnê NÃO mesmo, já parei, lembra?
Um recado para galera que tá mofando em casa, se resguardando, esperando os shows voltarem e essa pandemia ir embora.
VS – Amigos e amigas, sei que é difícil, estamos todos estressados com essa pandemia, mas temos que nos cuidar o máximo possível, fiquem em casa e só saia se não tiver jeito mesmo, USEM MÁSCARA, LAVE AS MÃOS SEMPRE, USE ÁLCOOL GEL, a Vacina está chegando aos poucos (se o governo ajudasse seria tudo mais rápido, mas infelizmente é o contrÁrio, ele sabota, dá muita raiva). Meus pais tiveram a primeira dose, e se Deus quiser a segunda também. É a única proteção efetiva mesmo. E valeu Nelson pela entrevista, abraço a todos.
Nelson de Souza Lima é jornalista, repórter, resenhista e colunista musical.
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