ROCK – Suas Histórias & Suas Magias

Por  Walter Possibom

Capítulo 1

Introdução

Na década de 1960, no período da Guerra Fria e na tomada do poder por ditadores em grande parte das republiquetas subdesenvolvidas, nasce um novo movimento cultural: o rock and roll.

Surgiu através de jovens que compunham uma classe social simples, humilde, mas antenada com os fatos que compunham a realidade do mundo daquela época. Apareceu para romper com a tradição e a hipnose moral que ditava o que era certo e errado. Criou-se um novo estilo de música e de vida, irreverente, jovem e estrondoso, para realmente abalar a sociedade, algo jamais visto antes. Esse movimento criticava seriamente as guerras e a ditadura, abordava temas obscuros e jamais usados na música, o que deixou assustado os mais conservadores.

O Rock tem como principal objetivo desafiar o Homem, provar a si mesmo que é livre, e não depende de nenhum controle cerebral da sociedade. A mídia constantemente enfia na nossa goela músicas sem personalidade e sem inteligência, para nos tornar mais manipuláveis. O Rock é o caminho para a antialienação, pois ele faz você pensar, criticar e se tornar alguém livre das amarras da imprensa. É possível observar que pessoas que ouvem rock (qualquer tipo que seja) têm a tendência de serem mais críticos e mais inteligentes.

Show de rock
O Rock é mais que um show. É um acontecimento social! Foto: Thibault Trillet/ Pixels

E mais do que isso. O Rock rompeu barreiras não só da música, mas do comportamento, da sociedade e até mesmo da religião. Destruindo tabus morais, o Rock e todas as suas ramificações (heavy metal, hard rock, thrash metal, alternative, etc.) tratou de vários temas, tais como guerras, liberdade, sexo, drogas, satanismo, sociedade, racismo, opressão, dentre outros temas.

O Rock é muito mais que um simples “estilo” musical; ele é um conjunto complexo de vários estilos de arte, os quais sempre estão juntos no sentido de um explicar ou complementar o outro. Portanto, se alguém quiser falar sobre Rock deverá entendê-lo como tal, senão estará divagando sobre solo falso.

Essa complexidade se estende até a apresentação no palco (auge do Rock), de um disco feito, e em toda a etapa de criação se tem a preocupação de seguir uma linha lógica que toma como base a ideia central dos temas desenvolvidos no disco, ou seja, toda criação representa e materializa os conceitos e mensagens que o disco traz, em sua grande maioria. Isso atinge seu clímax no rock progressivo, onde se constituem verdadeiras histórias com personagens, fatos, lugares, etc.

Fora o rock progressivo, no final da década de 1960 e no início dos anos 1970, o The Who inovou lançando ao mundo as suas famosas óperas rock (Quadrophenia, Tommy, etc.), posteriormente Rick Wakeman também assim o fez, através da criação de álbuns conceituais ou com histórias (Journey To The Centre Of The Earth, Myths And Legends Of King Arthur And The Knights Of The Round Table, The Six Wives Of Henry VIII, No Earthly Connection, etc.).

A complexidade criativa do rock

Abaixo explicaremos melhor como é a sequência desse processo criativo:

  1. Músicas →  Letra → Melodia      

      2. Álbum Sequência das músicas Criação das capas do disco Criação dos encartes (desenhos que constarão no encarte; fotos que constarão no encarte) Criação do material promocional

      3. Material promocional do disco Criação de cartazes Criação de folders Teasers para a imprensa

  1. Criação das turnês Criação dos cartazes dos shows Criação do palco →  Criação da iluminação Sonorização do evento

      5. Performance da banda

Neste item comentaremos cada um dos passos acima, trazendo à tona o nome das pessoas envolvidas nesse grande trabalho e que possibilitam que a banda de rock chegue à turnê.

Até o som no Rock é diferente: quem teve a permissão divina de assistir a um show do Pink Floyd, por exemplo, constata que algumas músicas são tocadas em quadrofonia, ou seja, ela é ouvida em um raio de 360º a partir do ouvinte, o que se torna necessário a fim de melhor representar a ideia da música. Aliás, o Pink Floyd era tão perfeccionista em deixar suas músicas perfeitamente audível em campo aberto que, ao iniciar um ano, trabalhava com dois discos: um ao ser lançado naquele ano e outro que seria tocado nessa turnê, mas que serveria para experimentações, a fim de refinar essa música em grandes ambientes, a fim de que pudessem atingir com precisão a noção que eles tinham da música, para, em seguida, serem lançado no ano seguinte (junto com o próximo disco que seria “testado” com esse .

Outro fator essencial é o entendimento de que o rock contém em si uma carga emocional extraordinariamente grande, que vem de suas origens: do negro africano que ajudou no desenvolvimento da América do Norte.

Foto: Oleg Magni/Pexels

 

Essa carga emocional, estocada pelo grito de revolta, de dor, de sofrimento, carreia no som do Rock toda essa energia que faz com que, muitas vezes, tenhamos que “ouvir” o Rock com a pele, em decorrência da enorme carga emocional que ela carrega e acaba nos banhando. Isso está perfeitamente descrito naquele que considero o melhor livro sobre a história do Rock de todos os que eu li (e tenham certeza: foram muitos), e que recomendo a sua leitura: Rock, o Grito e o Mito, de Roberto Muggiati.

Minha “História Rockeira” vem desde 1974, quando, assistindo a uma propaganda na televisão, de uma rádio fantástica na época – Excelsior, a Máquina do Som – na qual um “maluco cabeludo”  de fraque e cartola brancos saía de uma limusine, sem camisa e com um canivete enfiado na bainha da calça, cantava uma música que entrou direto pela minha pele, me deixando completamente embasbacado com aquele som (a rádio utilizara aquele clip para veicular a sua programação que era dedicada ao público jovem). Eu estava vendo o clipe de lançamento da música “Elected” do genial Alice Cooper. Naquela época, ele estava lançando o seu disco Muscle of Love e se encontrava em visita a nossa cidade para um show no Anhembi. A partir dali, iniciei uma busca frenética por todo e qualquer material relativo ao Rock, para que eu pudesse entender aquilo que tinha havido comigo.

A estrada foi longa, e após coletar uma quantidade bastante razoável de livros, revistas, recortes de jornal e muita vivência pessoal e com amigos rockeiros, entendi que havia acumulado um material ótimo que poderia servir de base para um livro; mas não um livro comum, e, sim, um que pudesse transmitir a maior parte do conhecimento e compreensão que eu acabei acumulando nesse tempo todo, a fim de que pudéssemos entender com maior clareza toda a significância do Rock na sua complexidade multifatorial (música, poesia, artes plásticas, fotografia, etc.).

Este trabalho tem a intenção de mostrar, ou indicar, essa complexidade do Rock como um elemento constituído por múltiplos fatores, os quais devem estar sempre juntos para que a magia aconteça, e sejamos aliviados em nossas dores, pois como disse Oswaldo “Rock” Vecchione: Deus Salva … O Rock Alivia!

Espero também, neste trabalho, fazer justiça a alguns homens e bandas do cenário do Rock Nacional que foram nossos verdadeiros heróis, mas que são simplesmente ignorados pela mídia comercial, sedenta de dinheiro e cada vez mais distante da cultura e do belo.

Boa leitura a todos, porque o bom Rock And Roll está por aí em infinitos lugares … procure-o e entenda-o … e sinta-se a pessoa mais feliz do Mundo!

 

A história dos Estados Unidos num texto que fala sobre Rock And Roll?

Pois é! É que foi lá que tudo começou.

O conhecimento de alguns fatos importantíssimos da história desse país irão nos ajudar a entender muita coisa de como tudo se deu.

Então vamos lá.

A ocupação do território onde hoje estão os Estados Unidos começa com a migração de humanos da Ásia, através do Estreito de Bering, num período indeterminado (estimativas variam de dez a quarenta mil anos atrás).

Diversas tribos nativas americanas viviam na região que atualmente constitui os Estados Unidos muito tempo antes da chegada dos primeiros europeus. Cada um destes grupos indígenas era composto por diversas tribos com culturas e idiomas semelhantes, que eram aliados ou neutros entre si. Entre os grupos indígenas dos Estados Unidos, destacam-se os Iroqueses, os Algonquinos, os Hurões, os Sioux, os Apaches, os Uto-astecas, os Havaianos e os Esquimós. Essas famílias indígenas estavam, por sua vez, divididas em várias tribos menores. Não se sabe ao certo o número total de nativos indígenas que viviam no atual Estados Unidos nos anos que precederam à chegada dos primeiros europeus. Estima-se este número entre um a quinze milhões de índios. Estes números também incluem astecas que viviam no Sul do atual Estados Unidos.

13 colonias EUA
As treze colônias na América; Wikipépia pt

Os primeiros europeus chegaram ao longo do século XVI. Diferentes nações exploraram e reivindicaram diferentes partes dos Estados Unidos. Os espanhóis foram os primeiros a explorarem as atuais regiões de Flórida, Texas, Novo México, Arizona e Califórnia.

Os franceses instalaram-se ao longo da região central do atual Estados Unidos, e holandeses e suecos no Nordeste. Durante a década de 1640, os holandeses expulsaram os suecos da região.

A Virgínia foi a primeira colônia britânica nas Américas. A colônia britânica de Virgínia foi fundada em 1606.

 Jamestown foi o primeiro assentamento britânico fundado no continente americano. Os colonos britânicos esperavam encontrar ouro ou outros metais preciosos, mas nada acharam. Ao invés disso, a Virgínia eventualmente tornou-se uma colônia agrária, passando a exportar tabaco para o Reino Unido a partir de 1612. A Virgínia também se destaca por ter sido a primeira colônia a criar um sistema de governo, a Casa de Burgess, uma câmara legislativa.

Outras províncias coloniais britânicas logo foram fundadas pelo Reino Unido, ao longo do Oceano Atlântico. Massachusetts foi fundada em 1620, e Nova Hampshire, em 1623.

A colônia de Nova Iorque foi fundada em 1624. Esta última colônia duplicaria após os britânicos terem expulsado os holandeses do Nordeste do atual Estados Unidos. Os holandeses estavam instalados no que atualmente constitui o sul do Estado de Nova Iorque, em uma colônia chamada Novos Países Baixos, cuja capital era Nova Amsterdam. Os Novos Países Baixos foram capturados em 1664 pelos britânicos, e Nova Amsterdã foi renomeada como Nova Iorque.

Os atuais Estados Unidos da América nasceram da união de Treze Colônias britânicas estabelecidas na costa atlântica da América do Norte a partir do século XVII. Em 1776, uma revolta foi organizada pela classe dirigente dos colonos e seguiu-se a Revolução Americana de 1776, que foi uma guerra de independência contra a autoridade do rei do Reino Unido. Em 1789, o país adotou uma constituição e assumiu a forma de uma República Federal, concedendo grande autonomia aos Estados federados. Desde o reconhecimento da sua independência pelo Reino Unido em 1783, e até meados do século XX, novos territórios e Estados foram sendo incorporados, ampliando as fronteiras do país até o Oceano Pacífico.

Soldados do Norte acampados durante a Guerra Civil norte-americana (EUA)

Desde tempos coloniais, os Estados Unidos enfrentaram a falta de mão de obra. À época, as diferenças socioeconômicas no país eram enormes, com um norte industrializado e um sul agrário. A falta de mão de obra incentivou a imigração europeia no Norte e o uso do trabalho escravo no Sul — que fazia uso extensivo de escravos comprados no continente africano. Os Estados industrializados do Norte eram contra a escravidão, enquanto o Sul achava que a escravidão era indispensável para o contínuo sucesso da agricultura sulista. Estas diferenças foram um dos muitos motivos de tensão política que gradualmente desencadearam a formação dos Estados Confederados da América, o que gerou a Guerra Civil Americana, da união, contra os sulistas — confederados — entre 1861 e 1865, uma guerra civil na qual o número de baixas americanas foi maior do que a soma de todas as baixas americanas sofridas em todas as outras guerras na qual os Estados Unidos se envolveram, desde sua independência.

Dessa separação cultural, posteriormente, pôde-se observar o nascimento de estilos diferentes de Rock, em função da própria cultura local em cada uma dessas regiões.

 

A música nos Estados Unidos

 A música dos Estados Unidos reflete a população multiétnica, mas tem a sua base principalmente nos gêneros afro-culturais através de diversos estilos. Rock and roll, blues, country, rhythm and blues, jazz, pop, tecno e hip hop estão entre os gêneros musicais do país mais reconhecidos internacionalmente, algumas outras formas de música popular americana também têm ganhado audiência global.

Os povos nativos foram os primeiros habitantes dos Estados Unidos e tocaram as suas primeiras músicas. Começando no século XVII, imigrantes do Reino Unido, Irlanda, Espanha, Alemanha e França começaram a chegar em grande número, trazendo consigo novos estilos e instrumentos. Os escravos africanos trouxeram tradições musicais e cada leva de imigrantes contribuiu para a miscigenação.

Muito da moderna música popular tem suas raízes ligadas à música negra americana (com influência do blues) e ao crescimento da música gospel nos anos do século passado. A base afro-americana da música popular utilizou elementos vindos da música europeia e indígena. Os Estados Unidos tiveram também influência das tradições musicais e da produção musical na Ucrânia, Irlanda, Escócia, Polônia, América latina e nas comunidades judaicas, entre outras.

Mapa do delta do Mississippi (EUA)

Muitas cidades americanas apresentam um cenário musical vibrante e, em cada uma, estilos regionais florescem. Juntamente com grandes centros musicais como Seattle, Nova Iorque, Minneapolis, Chicago, Nashville, Austin e Los Angeles, muitas cidades menores têm produzido destacados estilos musicais. O cajun, a música da Lousiana, a música havaiana, o bluegrass, a música antiga do Sudeste dos Estados Unidos são alguns exemplos da sua diversidade musical.

A música dos Estados Unidos pode ser caracterizada pelo uso de sincopação assimétrica e ritmos, melodias irregulares, que são reflexos da sua grande geografia e do sentimento de liberdade pessoal característica de vida americana. Alguns aspectos distintos da música americana, como o do tipo “chamada e resposta”, são derivados das técnicas e instrumentos africanos.

No desenvolvimento da história americana até os tempos modernos a relação entre música americana e europeia tem sido um tema fartamente discutido.

Alguns estudiosos entendem que a música americana caminha para um estilo e técnica mais europeu, enquanto que outros afirmam que a música americana caminha mais por estilos com sentimentos mais nacionalistas.

O estudioso de música clássica John Warthen Struble tem comparado os estilos americanos e europeus, concluindo que a música norte-americana é inerentemente distinta porque os Estados Unidos não tiveram muitos séculos de evolução musical como uma nação.

Ao invés disso, a música dos Estados Unidos é resultado da integração de sons indígenas e de grupos de imigrantes, sendo que todas elas foram desenvolvidas em grande parte dentro de suas regiões até a eclosão da Guerra Civil americana, quando pessoas de todas as partes foram reunidas em unidades do exército, em comércios, com isso houve a mistura de estilos musicais e técnicas.

Struble acredita que as baladas da Guerra Civil são “as primeiras músicas folclóricas americanas discerníveis com funcionalidades que podem ser considerados inéditas para a América: a primeira sonoridade americana musical, como um estilo regional distinto de qualquer derivado de outro país.

A Guerra Civil e o período seguinte viram um florescimento geral da arte americana, literatura e música. Conjuntos amadores musicais desta época são os responsáveis pelo nascimento da música popular americana. O autor musical David Ewen descreve estas primeiras bandas amadoras como feitas para combinar “a profundidade e o drama de clássicos com uma técnica não complicada, evitando complexidade em favor de expressão direta”.

De certa forma, isso era parte de um todo que despertou a América depois da Guerra Civil, uma vez que, nessa época, eclodiram incontáveis pintores, escritores e compositores americanos, abordando profundamente temas exclusivamente americanos.

Durante este período, as raízes do blues, gospel, jazz e country tomaram forma; no século XX, estes se tornaram o núcleo da música popular americana, o que mais tarde evoluíram no sentido dos estilos e ritmos como o blues, o rock and roll e o hip hop.

A música se relaciona com vários aspectos sociais e culturais dos Estados Unidos: a estrutura social americana, aspectos étnicos e raciais, religiosos, linguísticos, de gênero, assim como questões sexuais. Porém, a relação entre música e raça talvez seja a mais determinante. O desenvolvimento da música negra nos Estados Unidos, independentemente da África e da Europa, tem sido um tema constante no estudo da história da música americana. Existem poucos registros da era colonial, quando estilos, canções e instrumentos da África ocidental se mesclaram no caldeirão da escravidão.

Por meados do século XIX, uma tradição folclórica distintamente afro-americana era bem conhecida e difundida, e técnicas musicais afro-americanas, instrumentos e as imagens se tornaram uma parte do mainstream americano através da música spiritual, shows de menestréis e músicas de escravos. O estilo musical afro-americano tornou-se parte integrante da música americana popular através de blues, jazz, rhythm and blues, e, então, rock and roll, soul e hip hop, todos estes estilos foram consumidos pelos americanos de todas as raças, mas foram criados no estilo afro-americano e expressões idiomáticas antes de eventualmente se tornar comum no desempenho e consumo em profusão.

A situação econômica e social distingue a produção e o consumo da música americana, com as classes mais altas patrocinando a música clássica e a música rural e étnica geralmente ligada aos mais pobres. No entanto, essa divisão não é absoluta, sendo mais aparente do que real; a música country, por exemplo, é um gênero comercial destinado ao “apelo à identidade da classe trabalhadora, enquanto seus ouvintes podem ou não ser trabalhadores de fato”.

Cenário inicial da formação da música norte-americana. Foto: Rudy & Peter Skitterians/Pixabay

A música country relaciona-se também com a identidade geográfica, sendo rural em sua origem e função; outros gêneros, como R&B e o hip hop são tidos como urbanos.

Na maior parte da história americana, fazer música era uma “atividade afeminada”. No século XIX, piano e canto amador foram considerados adequados para as mulheres de classe média alta, que foram, entretanto, muitas vezes barradas de orquestras e sinfônicas.

Mas as mulheres também foram importantes no começo do desenvolvimento da música popular, embora não tivessem tantas oportunidades quanto os homens.

 

A maioria dos gêneros da música popular dominados por homens inclui artistas e músicos do sexo feminino, muitas vezes em grande número em nichos atraentes principalmente para mulheres, tais como gangsta rap e heavy metal.

 As diversas influências musicais

Os Estados Unidos são bem conhecidos por ser um “caldeirão” de músicas, com influência de várias partes do mundo e criando novos estilos culturais distintos dos outros. Embora os aspectos da música americana terem uma origem específica, a origem de culturas particulares de músicas é problemática, devido à constante evolução da música americana de transplantar técnicas, instrumentos e gêneros.

Elementos de músicas estrangeiras chegaram aos Estados Unidos tanto pelos canais formais de patrocínio de eventos educacionais e de evangelismo por indivíduos e grupos, quanto por processos formais, como no incidente de transplante da música africana através da escravidão, e da música irlandesa, pela imigração.

As músicas americanas mais distintas são resultado das misturas culturais e dos contatos mais próximos. A escravidão, por exemplo, misturou pessoas de inúmeras tribos nas zonas habitacionais resultando em uma tradição musical partilhada que foi enriquecida com elementos de músicas e técnicas indígenas, latinas e europeias. A ética, religião e raças diversificadas americanas produziram vários gêneros de francês-africano, como Louisiana Creoles; nativas, como as músicas europeias e mexicanas unidas, e outros estilos como as músicas havaianas.

O processo de transplante de música entre culturas não é isento de críticas. O renascimento do folk nos meados do século XX, por exemplo, apropriou-se de músicas rurais de diversos povos, em parte para promover certas causas políticas, o que tem causado alguns a questionar se o processo provocou uma “comercialização de músicas de outros povos”… e a inevitável diluição da mídia na apropriação musical.

A questão da apropriação cultural também tem sido uma parte importante das relações raciais nos Estados Unidos. O uso de técnicas musicais afro-americanas, imagens e conceitos em música popular em grande parte por brancos e para os americanos tem sido difundida pelo menos desde meados do século XIX canções de Stephen Foster e com o aumento de trovador shows. A indústria fonográfica americana tentou ativamente popularizar executantes brancos de música afro-americana, porque eles são mais saborosos e mais fáceis de integrar a classe média americana. Este processo produziu várias estrelas como Benny Goodman, Eminem e Elvis Presley, bem como estilos populares como Blue Eyed Soul e o Rockabilly. 

 

As sementes do blues

Para entender a origem do blues, precisamos necessariamente voltar ao início do século XVIII, durante o Grande Despertar religioso norte-americano. Esse momento de maior união religiosa entre as raças é de fundamental importância histórica por finalmente oferecer à população negra um espaço de celebração religiosa em igrejas Católicas, mesmo segregadas. Nos cultos, os escravos negros tinham um espaço de dançar e cantar de um jeito que remetesse às formas de celebração africanas extirpadas deles no novo mundo. Essa prática deu origem ao spiritual, estilo musical emotivo e introspectivo, que iria influenciar o blues durante seu desenvolvimento.

Trabalhadores rurais no sul dos EUA colhendo algodão

Outra manifestação musical negra influente foram as canções de trabalho, músicas cantadas por negros durante o trabalho escravo, especialmente nas plantações de algodão do sul dos Estados Unidos. As canções de trabalho, sem nenhuma influência europeia, aparentemente tornavam o trabalho mandatório mais tolerável e produtivo. Em razão do ritmo da música ser o mesmo ritmo do trabalho sendo realizado (o ritmo de um martelo batendo recorrentemente em uma pedra, por exemplo), a canção de trabalho é organizada e repetitiva. Crucial nessa música é o seu elemento responsorial, comum tanto no blues quanto no jazz, onde um solista canta um trecho e os outros integrantes respondem ao que está sendo cantado. As canções de trabalho tinham como temas a união entre os membros e a superação de situações existenciais degradantes.

Outra influência fundamental para o desenvolvimento do Blues foram os Clamores de Roda, estilo musical que, como as Canções de Trabalho, têm como características o canto responsorial e a participação em conjunto dos membros. Os Clamores de Roda, contudo, não tinham controle rítmico rígido e não eram cantados durante o trabalho manual, sendo a expressão catártica dos participantes elemento central, que entravam em transe enquanto cantavam e dançavam em roda. Essa característica dos Clamores de Roda é também central na tradição do Blues e do Jazz, que abre espaço para manifestações singulares e emocionalmente carregadas, especialmente durante a improvisação musical.

A partir dessas influências musicais e com a popularização da música folclórica negra espalhada principalmente pelos menestréis durante o final do século XIX, o Blues pôde finalmente emergir como linguagem musical autônoma. Este estilo musical, contudo, não foi uma simples colagem dos estilos musicais anteriores, mas uma verdadeira síntese entre a cultura africana remanescente na população negra norte-americana e a cultura musical adquirida nos Estados Unidos pelos próprios escravos.

Além de possibilitar a manifestação catártica dos seus intérpretes, do canto responsorial e da humanização do negro a partir da música, o Blues tem características próprias que a definem como estilo musical independente. De fundamental importância são os intervalos de terça menor e quinta diminuta encontrados na escala de Blues, que são executados melodicamente sob uma estrutura harmônica com tétrades maiores que se utilizam da sétima menor.

A escala de Blues, que provavelmente se desenvolveu da justaposição de uma escala pentatônica do leste da África com a escala diatônica ocidental, é a ferramenta musical que dá ao Blues a sua melodia cortante e visceral. Outra característica importante é a predominância da forma de doze compassos, repetida incessantemente até o final da execução da maioria das canções de Blues. A forma auxilia na apresentação responsorial da letra, que muitas vezes apresenta uma ideia melódica nos primeiros quatro compassos, repete a mesma frase nos quatro compassos seguintes, e responde com uma ideia complementar nos quatro últimos compassos, repetindo essa fórmula com a forma se reiniciando. As letras cantadas nas canções de Blues geralmente tratam de temas universais, como o amor não correspondido ou a dificuldade em lidar com o próprio destino em um mundo incerto.

O jazz se desenvolve a partir deste contexto cultural encontrado nos Estados Unidos no final do século XIX. Esse estilo musical, contudo, tem outras influências importantes que a distinguem do Blues. Por ser uma manifestação musical urbana desenvolvida na cidade sulista de Nova Orleans, local de grande movimentação de grupos étnicos e culturais diferentes, principalmente durante o século XIX por ser uma cidade portuária de importância econômica fundamental para o país, o Jazz recebe influências diretas de culturas diversas, em especial vindos da região das antigas Índias Ocidentais e do Haiti. Além disso, a cidade mantém viva a sua tradição de bandas militares, que atuam na cidade na maioria das suas celebrações, desde funerais e casamentos até churrascos informais.

A instrumentação do Jazz terá influência direta destes grupos, enquanto que o Blues continuará fiel aos seus instrumentos originais (violão de aço, voz e gaita diatônica). Outra tradição musical importante que é eventualmente incorporada na linguagem jazzística é o ragtime, estilo musical desenvolvido pelos Creoles Negros, que tem um ritmo alucinante, pelo menos para a época, além das influências claras da música europeia erudita.

Blues, de Robert Crumb

Apesar dessas claras diferenças, a distinção definitiva entre as duas linguagens é estabelecida quando se consolida, na década de 1920, o estilo particular de solo sob cada um dos dois estilos musicais. O Jazz, que nessa época tem em Louis Armstrong seu representante mais influente, tende à ornamentação melódica e ao virtuosismo, enquanto que o Blues, que se incorpora na cantora Bessie Smith, continua tendo na expressão emotiva e na escala de blues seus mais poderosos pilares definidores. Outra diferença fundamental está no desenvolvimento do material harmônico, com o Jazz explorando, além dos 12 compassos do próprio Blues, outras formas, como canções populares norte-americanas da época. O Blues, contudo, pouco explora possibilidades harmônicas diferentes.

O Blues, que ao longo dos anos pouco se transformou se comparado ao Jazz, se manteve fiel à sua visão artística original de expressividade intensa, enquanto que o Jazz desenvolveu um temperamento mais volátil, abraçando as mudanças que se apresentaram musical e socialmente ao longo do seu percurso secular na história dos Estados Unidos. Essas duas linguagens musicais, contudo, nunca romperam uma com a outra completamente, apesar de, durante o século XX, os dois estilos terem tido histórias particulares e diferentes uma da outra. Para terminar, podemos ouvir o magnífico Louis Armstrong improvisando sobre uma estrutura de Blues no famoso “West End Blues”, composição que talvez esteja justamente na fronteira definidora entre essas duas linguagens musicais.

Mas, iremos ter um capítulo só com a história do Blues, deixemos aprofundamentos mais para a frente.

Matéria original veiculada em: j.jplanetcaravan.blogspot.com


 

 

 

 

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