“Tudo tem fluxo e refluxo; tudo tem suas marés; tudo sobe e desce; tudo se manifesta por oscilações compensadas. A medida do movimento a direita é a medida do movimento à esquerda; o ritmo compensa.” (Caibalion 1908).
Ahhh, a filosofia, sempre fazendo nosso cérebro funcionar. A citação acima corresponde à quinta lei hermética, a do ritmo, que se entrelaça com a da vibração, enfim, chegamos na música.
Em maio de 2018, a grande imprensa divulgou, erroneamente, a falência da Gibson, lendária fabricante de guitarras. Na verdade, só foi pedida proteção contra a falência. Sim, a preferência por estilos como o rap e o hip hop diminuíram as vendas do instrumento, mas o grande problema veio de má gestão, apostaram em tecnologias e produtos errados. No ano seguinte, em 2019, ela se considerou uma startup de 125 anos, palavras do seu novo CEO, JC Curleigh, e pretende oferecer aos clientes um produto premium acessível.
Aconteceram várias coisas incríveis na pandemia e um aumento recorde em vendas de guitarras foi uma delas, isso mesmo! Em sua grande maioria foram adquiridas por iniciantes, jovens, com um aumento significativo por mulheres, fantástico. A Gibson não conseguiu atender a todos os pedidos. A Fender, outra gigante do mercado de guitarras, bateu recorde no segundo semestre de 2020, quando a demanda foi maior 50% em relação à fabricação do instrumento.
No mesmo período, a Amazon, assim que abriu loja no Brasil, deu 20% de desconto em toda sua linha de instrumentos musicais. Penso que está acontecendo alguma coisa hein…
A pandemia abriu portas para a criatividade, principalmente para os estilos que são mais fáceis de produzir, como o rap e o hip hop, feitos num dia em algum home studio por aí. Mas, se juntarmos a facilidade de cursos online de instrumentos, uma juventude mais propensa a pensar sobre os desafios do futuro, mais conscientes sobre assuntos como depressão e ansiedade, não te lembra algo familiar? Isso mesmo, a música emo, mas com um toque pop, mais jovial e uma revolta mais punk, podemos chamar de emo-pop-punk?
A gigante Sony está investindo alto numa nova geração. Olivia Rodrigo, cantora norte-americana de 18 anos, com sua música pop-punk “God 4 u” chegou ao número um das paradas globais no começo deste mês, com guitarras distorcidas! A atitude da garota é muito mais rock and roll do que muita banda de rock por aí…
O rap abraçou a guitarra quando Post Malone, rapper norte-americano de 25 anos, fez covers de rock em apresentações ao vivo, de Kanye West, passando por Nirvana e Bob Dylan. A minha predileta foi “Rooster” do Alice in Chains, o que prova que o cara pode cantar tudo.
Travis Barker , baterista do Blink-182, está ajudando vários jovens a introduzir a guitarra em suas composições, dentre eles, Gun Kelly, ex-rapper de 31 anos que exibe agora sua guitarra na capa do álbum “Tickets to my downfall”. Gun foi eleito o melhor artista de rock pela Billboard Music Awards deste ano. Outra apadrinhada por Barker é, nada mais nada menos, que a filha do ator Will Smith, Willow Smith, de 20 anos, que fez um bom uso da guitarra no pop-punk “Transparent soul”. Lil Nas X é outro bom exemplo de rapper que está colocando punk-rock nas suas canções.
Não posso deixar de falar da grande influência da plataforma Tik Tok na música hoje em dia. Quem foi para o estrelato por ela foi a banda italiana de rock Mäneskin, essa merece um capítulo à parte.
Formada em 2017 por quatro talentosos jovens italianos entre 18 e 22 anos, apenas venceram o Eurovision no início deste mês, principal competição de música do continente e a música “Zitti e Buoni” já virou hino italiano e europeu, talvez chegue aqui. Sim meus senhores, você vai se pegar cantando rock italiano daqui pra frente, as músicas são ótimas!
O destaque da banda está no seu frontman, Damiano David, 22 anos, performer de primeira, lindo, sexy. Aliás, a banda parece ter saído de um desfile da Armani, é muita elegância e beleza no figurino, visual marcante, meio emo, meio andrógino (bem longe daquela masculinidade tóxica dos rockers da minha geração, agradeço), com direito à execuções de pole dance e unhas pintadas. Bem, atenção para as influências da banda: Led Zeppelin, David Bowie, Arctic Monkeys(19 M de seguidores no Spotify, hoje Mäneskin está com 32M!), Royal Blood , Bruno Mars, Harry Styles, essa diversidade me emociona. Tente cantar com drive, potência, fazendo falsete de soul com intervalos de respiração de rap e ainda dançar muito e exalar muita energia no palco, coisa que não via há anos, é isso o quê a banda entrega.
Ficaram em segundo lugar na edição italiana do X Factor em 2017, lançaram o álbum “Il Ballo della vita”, nome tatuado no peito do vocalista. Em 2018, abriram o show do Imagine Dragons, neste ano venceram o Festival de Sanremo, culminando na vitória do Eurovision onde o vocalista Damiano David soltou a frase: “Rock androll never dies!”. Saíram de 1 milhão de seguidores no Spotify para 15 milhões, seu novo A&R é Simon Cowell, mudaram-se para Londres e já flertaram com Myles Cyrus. O que esperar de uma banda italiana, com nome dinamarquês, que também canta em inglês? Podemos esperar grandes emoções pela frente, aliás elas já começaram, ganharam um banner gigante na Times Square em NY e chegaram ao Top 50 mundial do Spotify, em primeiro lugar, com a ótima versão de “Beggin”, da banda Four Seasons de 1967.
Ainda nas emoções, Mark Hoppus, vocalista e baixista da banda Blink-182, anunciou estar lutando contra um câncer e, num outro extremo, Angra, uma das maiores bandas de heavy metal do país, acaba de anunciar uma parceria com MC Guimê. Alguma coisa está ebulindo das profundezas…
Agora que nós sabemos onde foram parar aquele monte de guitarras, que elas se juntaram com o rap desta geração e que têm muito a dizer, só nos resta agradecer a evolução e concluir que o ritmo compensa: Rock and roll never dies!
Sou Patricia Fawkes, cantora e compositora de indie rock e sempre fico feliz com evoluções, aquelas que seguem pro alto.
Fontes: Bloomberg; Guitarworld; Rolling Stone; Música e Mercado; TMDQA; Globo; Santo de Casa; Canal Minuto; Indie; Atrevida; Portal Popline; Tracklist; Música e Negócios.