Roqueiro(a) que é roqueiro(a) faz a mão chifrada, é ou não é? Acredito que poucas pessoas sabem o real significado do símbolo e terei o prazer de explicar a vocês.
Ronnie James Dio (1942-2010), ex-vocalista do Black Sabbath, DIO e de outras bandas, foi quem melhor interpretou a mão chifrada e ajudou a popularizá-la no rock durante década de 1980. Em entrevista, quando perguntado sobre a origem do símbolo, respondeu: “Minha avó era italiana e usava o mailok, ou mão chifrada, para protegê-la contra o “olho do mal”. Isso mesmo, mailok, ou malocchio, em italiano, significa mal olhado. O gesto remete aos pré-históricos sumérios, na Idade da Pedra (adorei essa analogia, hehe) e ao hinduísmo, e em ambos tem o mesmo sentido: afastar o mal, tendo sido transmitido aos gregos e romanos, até chegar aos ancestrais da avó do Dio (cultura).
Bem, em 2017, Gene Simmons (1949), vocalista do Kiss, resolveu patentear o sinal em seu nome (pôxa Gene…) alegando tê-lo criado em 1974, antes do Dio. A banda de rock que mais faz merchandising no mundo tentou dar sua tacada de mestre, mas, no final, só passou vergonha, deu em nada (a não ser gerar polêmica, o que pode ter sido mais uma ação de merchan, será?). Além de Dio e Kiss, bandas como The Beatles e Coven também divulgaram o gesto na imprensa. Na capa do álbum Yellow Submarine, lançado em 1969, John Lennon (1940-1980) aparece mostrando a mão chifrada e quando perguntado sobre isso, respondeu: “Achei que fosse o símbolo do amor.” (pôxa John…). Em tempo: o amor, em libras, a linguagem brasileira de sinais, é similar ao mailok só que com o polegar estendido (desculpado, John).
Mas por que todo mundo fala que é um sinal do satanás, do capiroto, do demônio?
É do ser humano temer tudo o que não entende. O gesto tem como principal analogia a simbologia do chifre, na figura de Baphomet, da época dos templários, cuja origem, baphe+metis nos remete ao batismo de sabedoria, uma figura criada por Eliphas Levi (1810-1875), escritor cabalista do século XIX, no livro Dogma e ritual de alta magia. Baphomet representa os princípios do hermetismo, um estudo filosófico, mas aí o assunto pede outro texto.
O cristianismo associou os chifres de Baphomet aos chifres do diabo, do demônio, do Satanás, enfim, a tudo que era contra os pensamentos da Igreja na época, início da Idade Média (476-1453). O curioso é que os chifres tinham o significado oposto antes da cristianização, que era, direcionado ao divino, para cima. Até existe a ciência heráldica, que criou brasões e escudos de impérios e famílias na Idade Média, os chifres estão sempre presentes, com o significado de alcançar o divino. Os celtas, antes do cristianismo, enalteciam os chifres na sua cultura.
Mas Baphomet tem a ver com satanismo? Existe o satanismo teísta e o ateísta; o teísta é aquele que adora Satã, o que se opõe a Deus, alguns fazem rituais e sacrifícios sem ética para justificar sua crença (ou sua falta de ética). O ateísta usa satã apenas como arquétipo do que não fazer, consideram uma filosofia e não uma religião. Enfim, fica ao seu critério escolher onde Baphomet entra nessa história.
Segundo pesquisa do Datafolha de 2020, 50% dos brasileiros são católicos e 31% evangélicos; e 21% ouvem rock. Fica claro que, numa população de maioria cristã em que a minoria ouve rock, o capiroto tá sempre em baixa, não é mesmo?
Agora você pode fazer a mão chifrada com mais convicção, afinal, o que é o rock’n roll senão a maior reação à sociedade opressora? “Livrai-nos do mal” (Romanos, capítulo 12, versículo 21 – achei cabalístico). Long live rock’n roll! (uma homenagem ao álbum homônimo gravado em estúdio, com Ronnie James Dio & Ritchie Blackmore, em 1978).
Fontes: canal Conhecimentos da Humanidade, uolentretenimento.com.br, diariodecanoas.com.br, espiritualidadesemrotulos.com.br
Patricia Fawkes é cantora, compositora, sedenta por filosofia e adora rock.
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